O setor vinícola deixa muito a desejar no que diz respeito a marketing.
Num mundo em que o vinho perde mercado para a cerveja, o destilado e
até o refrigerante, ele pergunta “onde está o marketing do vinho?”
Acho
que podemos arriscar a resposta, especialmente se compararmos com a
cerveja. Aliás, é exatamente esta a comparação que mais gosto de fazer
para tentar entender ao menos alguns dos motivos para essa distância.
Figura 1: Sansão x Golias
Por
mais que haja grandes holdings por trás de alguns famosos rótulos
(leia-se LVMH, Diageo, Pernord Ricard) e, portanto, empresas com grande
poder financeiro, a indústria do vinho é muito fragmentada. Enquanto os
grandes da cerveja (Ambev, Anheuser Bush) controlam 60% deste setor no
mundo, no caso do vinho, esses conglomerados possuem somente 3% da fatia
de mercado.
Não que a LVMH
não possa pagar por um comercial de trinta segundos no horário nobre ou
patrocinar um camarote na Sapucaí. Não é este o caso. O que ocorre é
que grande parte dos rótulos pertencentes a essas empresas são produtos
de luxo. Portanto, não é só a tradição de toda a indústria de não
anunciar nas grandes mídias, mas também o fato de que a estratégia de
marketing desses produtos certamente não inclui anunciar no intervalo do
futebol.
Mas grande parte das vinícolas trabalha com pequenas
margens de lucro, não tendo, portanto, como despender tanto. Só que nem
tudo está perdido! Isto porque há um fenômeno que ocorreu com o vinho: a
web e, mais especificamente, a web 2.0.
As grandes discussões referentes ao setor concentram-se em blogs,
mídias sociais. Graças a essa “gente comum”, que na maioria das vezes
são profissionais de outras áreas, mas que compartilham a paixão, o
vinho ganhou a força que tem hoje na web.
Figura 2: EWBC Konferenz, 2010
Não
é preciso nem dizer que hoje não faltam blogs, ferramentas ou redes
sociais dedicados à bebida. Muito mais do que qualquer outra. A presença
é tamanha que neste ano, por exemplo, Izmir, na Turquia, sediará a
quinta edição da Conferência dos blogueiros de vinhos europeus (EWBC).
A versão americana já vai para a sexta edição em agosto, quando
ocorrerá em Portland, EUA. E a participação de produtores nesses eventos
pode-se dizer que é massiva.
Isso mostra que o vinho encontrou
outra maneira de fazer seu próprio marketing, de uma forma mais barata e
feita por quem mais importa: o consumidor. É ele quem faz o marketing
de muito vinhateiro por aí, publicando na web avaliações e impressões
sobre vinhos e vinícolas.
Por conta disso, alguns produtores e
distribuidores já se atentaram para esse movimento. As grandes vinícolas
brasileiras, por exemplo, costumam fazer bonito. Possuem sites bem
completos, com todas as informações objetivas e que realmente interessam
ao usuário, além de presença nas redes sociais. As pequenas ainda
costumam deixar nos sites, mas já estão entrando nas mídias sociais, com
direito a páginas no Facebook, perfis no Twitter ou mesmo comentando
postagens de blogs.
Figura 3: As Mídias Sociais
Enquanto
isso, muitos ainda deixam a desejar. Quem poderia dizer, por exemplo,
que o site do premiadíssimo Domaine de La Romanée-Conti, além de só ter
sido criado recentemente, fosse tão fraquinho? Se não acredita, dá uma olhada.
De qualquer forma, é um sinal de que o vinho encontrou alguma forma de
sobrevivência. Não que isso justifique a ausência de marketing nos
canais mais tradicionais, mas já é um começo, especialmente para uma
indústria que ainda é conservadora.
Lógico que há os que ousam
ainda mais, como vinícolas que patrocinam shows de rock ou festas à
beira-mar, uma iniciativa inteligente para tentar conquistar novos
consumidores. Mas a internet é definitivamente o canal mais presente
para o marketing do vinho. Só que eu já adianto um problema: na web, o
usuário tem poder quase que total sobre o conteúdo que quer ver,
diferentemente de meios como o cinema, a televisão ou o rádio. Portanto,
talvez não seja o veículo ideal para atrair novos consumidores. Mas
isso já é outra história.
Publicado em: 28 Fevereiro, 2012 por Rodrigo A.
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